quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Madalena

Os gnósticos cristãos a tornaram um ícone, superior em importância e saber aos discípulos masculinos do Salvador. No Evangelho que leva seu nome, é ela quem os exorta a "ir à luta", para difundir a mensagem que o Mestre lhes havia deixado. E é somente a ela que o Salvador revela, em uma visão, sua doutrina esotérica.

No "Pithys Sophia", Madalena representa a centelha anímica que existe em cada ser humano, a parte da Sophia que ficou em nós, e que é a única capaz de se comunicar com os planos espirituais, para receber a verdadeira Gnoselibertadora.

E quando as descobertas de Nag Hammadi vêm à luz, é de uma obra gnóstica que emerge um termo polêmico, capaz de incendiar a imaginação dos homens do século XX: Maria Madalena é chamada de "companheira" (esposa ?) de Jesus, no "Evangelho de Felipe".

Afinal, quem foi Maria Madalena?
Discípula, companheira, esposa?
Os Evangelhos Canônicos não a designam por nenhum desses termos, mas lhe conferem uma posição de destaque entre as mulheres que seguiam Jesus e o "serviam" (em grego "diakonein", que significa "servir", de onde provém o termo "diácono").
Muitos dos que escreveram sobre ela, não esquecem de mencionar que Madalena está presente nos episódios mais importantes da história de Jesus, inclusive no da sua ressurreição.

DIA E NOITE
A mulheres que seguiam e serviam Jesus, acompanhavam o Mestre e seus discípulos em todos os momentos e em todos os lugares?
Estavam com eles durante os dias e durante as noites?
Dormiam onde eles dormiam, mesmo quando "acampavam" ao ar livre, nos dias em que o "Filho do Homem" não tinha nem onde "repousar a cabeça"?

Se Madalena é a esposa de Jesus é óbvio que está com ele dia e noite.
Deita-se onde ele se deita. Deita-se com ele. Dorme com ele.
Está com ele em todos os momentos, sobretudo o mais difícil, quando seu corpo é brutalmente afixado a uma cruz romana.

JERUSALÉM
É noite em Jerusalém.
A velha cidade regurgita de povo. É tempo de Pessach.
Muitos vieram de longe. São judeus da "diáspora", que do hebraico guardam apenas algumas palavras rituais. A maioria deles comunica-se em grego.
Tiveram que trocar moedas estrangeiras que trouxeram, por outras sem efígies, para poderem depositar seus óbulos no Templo construído por Herodes, o odiado idumeu.
Alguns hão de ter testemunhado o momento em que um punhado de galileus agrediu cambistas do templo, derrubando mesas, espalhando moedas pelo chão.
Um fato lamentável. Mas enfim, que se pode esperar de galileus, essa gente rude, arruaceira, que vive em uma região cheia de gentios, e onde reina o tetrarca Antipas?
Os agressores foram rápidos. Evadiram-se antes que os guardas do templo chegassem para prendê-los.
Mas devem estavam sendo procurados.

NOITE DE AFLIÇÃO
Os "galileus" estão no jardim de Getsêmani, no monte das Oliveiras, perto de Jerusalém.
Jesus está aflito. Sua alma está "cheia de tristeza, até a morte".
Talvez pressinta o que está para acontecer, talvez o saiba.
Pede aos que estão com ele que vigiem, enquanto se afasta para orar ao Pai.
Madalena está entre eles?
As outras mulheres que seguem Jesus também estão?
Os Canônicos nada dizem.
Se Madalena é discípula, é provável que esteja. Se é esposa, certamente há de estar.
Jesus retorna e encontra os discípulos dormindo, enrolados em seus mantos.
Madalena também dormiu, apesar de ter percebido a aflição do Mestre (esposo) ?

Quando chegam os guardam que vêm prender Jesus, qual é a reação de Madalena? Grita, chora, sai em defesa do Mestre (Esposo)? Ou, como os demais, deixa-se paralisar pelo medo?
Nem todos adotam uma posição passiva. Há um que reage (talvez Pedro): desembainha uma espada e investe contra o guarda que pretende manietar Jesus.
Espada? Os discipulos de Jesus andam armados?
Num gesto instintivo, o guarda desvia a cabeça, mas a espada o atinge na orelha, decepando-a.
Se não tivesse se desviado, provavelmente sua cabeça teria sido fendida, e ele estaria morto.

Qual a reação dos guardas diante da atitude de Pedro?
O normal seria que, vendo o companheiro atingido, sangrando, se lançassem contra todo o grupo, acutilando-o indiscriminadamente.
Seria um massacre.
Poupariam Jesus, por terem ordens de levá-lo vivo, mas chacinariam seus seguidores e não haveriam de ser repreendidos por aqueles que os encarregaram da missão.
Mas, espantosamente, os guardam nada fazem. Nem tentam prender o homem que atacou seu colega.
É Jesus quem repreende Pedro, ordenando-lhe que embainhe a espada (não que se desfaça dela).
Então, instala-se a debandada. Os companheiros de Jesus tratam de por-se a salvo, fugindo do local. Há um até que foge completamente nu.
Mas há dois deles que, a uma distância cautelosa, acompanham o cortejo de Jesus conduzido pelos guardas. É Pedro e um "outro discípulo".
Quem é esse outro? Será Madalena ou ela também fugiu junto com os demais?

GÓLGOTA
Aos pés da cruz, algumas das mulheres que seguiam Jesus, testemunham seus derradeiros momentos. Entre elas está Madalena.
A mãe do crucificado também está presente, em companhia de um discípulo.
Pouco antes de expirar, Jesus dirige-se à mãe e confia-a aos cuidados do discípulo.
A Madalena (esposa?), nenhuma palavra de adeus.

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